Não adianta, posso relutar, mas preciso deixar registrado aquele olhar
admirando a perfeição dos detalhes. Do dia ensolarado, da praia, do mar, da
areia, das pessoas, encontrando o meu olhar curioso. Me senti tão focalizada
quanto estava focalizando-a. Trocamos olhares cúmplices e sorrimos como
crianças de cinco anos, aquele momento tinha algo mágico, complexo demais pra
explicar.
Havia algo por trás daquele seu olhar entusiasmado de uma adolescente
fazendo algo proibido. Alguém como eu, diria que por trás daquele modo de
enxergar o mundo estava toda a experiência adquirida durante a vida. Quem sabe
quantas histórias, quantos amores, quantas dores, quantas alegrias aquela
senhora, de olhos brilhantes, viveu?
Entretanto, tal olhar poderia ser comparado com o menino descrito no
conto de Carrascoza, Aquela água toda. Quanta semelhança apesar dos tantos anos
que separavam ambos. Mesmo com a pele desgastada, ela parecia tão jovem quanto
o menino que tão encantado com o mar, mal conseguiu fazer outra coisa que não
fosse se apaixonar por tudo.
Suas rugas e marcas de expressão
entregavam sua verdadeira idade, sem rodeios, mais de 60! Seu bíquini, e o modo
como se sentia confortável, demonstravam como ela acompanhou a evolução do
tempo. E, o pensamento do século passado, aprendido quando era uma moça, não a
acompanhou durante a vida.
Quantos filhos aquela mulher gerou em seu ventre, quantos entes queridos
ela perdeu? Sem dúvidas, ela soube viver. Não me deparei muitas vezes com
pessoas que transmitissem tanto num simples olhar. Olhares dizem muito. Ela é
admirável.
Sorrisos foram contidos por uma afirmação ''já te vi alguma vez, seu
sorriso é inesquecível'', ela disse (estava pensando o mesmo que eu).
Conversamos por pequenos minutos, constatamos que era muito improvável termos nos esbarrado nessa vida. (Mas, quem
sabe, numa outra?)